domingo, 26 de janeiro de 2014

A AULA NUMA CONCEPÇÃO DIALÓGICA



“O diálogo, entretanto, deve ser considerado não apenas como uma conversação, mas sim como uma busca recíproca do saber” (PAULO FREIRE).
A pesquisa deve começar na educação infantil e não apenas quando o aluno ingressa nos cursos de pós-graduação (mestrado ou doutorado). O professor também precisa pesquisar para trabalhar com seus próprios textos e não somente com textos de outros pensadores.
Rubens da Silva Castro é Professor da Faculdade de Educação da UFAM.
Elizeu Moreira é doutorando e professor do PARFOR
Existem duas concepções de fazer ou produzir ciência, duas visões de mundo, de homem e de sociedade, duas concepções epistemológicas: a Metafísica e a Dialética. A metafísica é acrítica ou crítica reprodutivista porque está comprometida com a conservação e a manutenção do status quo. Não adota a crítica como categoria de análise, possibilitando o fortalecimento e a manutenção da estrutura da sociedade divida em classes. Nesse sistema epistemológico, o questionamento e as reivindicações são encaradas como anomalias, badernas ou comportamento atrasado. A Dialética entende a sociedade como um campo de contradições sociais. Auxilia numa análise lúcida de que a Globalização é uma invenção dos organismos internacionais de cultura e de financiamento, a serviço do G-7, para resolver a aguda crise do capitalismo. E o que é a crise do capitalismo? Em uma determinada perspectiva é a não realização plena da mercadoria, ou seja, os países do G-7 não conseguem vender o que produzem. Em consequência, os Estados nacionais, considerados em vias de desenvolvimento são levados a comprar seus computadores, televisores e outros aparelhos eletrônicos, resolvendo a situação do desemprego no centro e agravando, cada vez mais, a situação periférica. Professor agora não é mais o senhor do seu trabalho. É manipulador de instrumentos didático-pedagógicos construídos no Primeiro Mundo.
E como é a aula na perspectiva dialógica? Nessa concepção, o sujeito é considerado como um elemento ativo e o conhecimento como condicionado, socialmente, e como processo. Nega a neutralidade das Ciências Sociais como colocada pelos positivistas. A metodologia de ensino e a seleção de conteúdos oportunizam ao aluno o entendimento da realidade em que vive e de ter consciência de sua posição na sociedade, isto é, a possibilidade de recuperar a sua memória histórica. Para que o aluno examine, criticamente, o papel da sociedade na sua formação, além de conteúdos que coloquem questões do presente, das suas experiências vividas contraditoriamente, que se manifestam em várias dimensões, é preciso que se inicie esse aluno nos procedimentos da produção do conhecimento incentivando um relacionamento ativo e crítico com o saber, e negando o conhecimento como verdade absoluta e acabada.
Por outro lado, conseguir que o aluno produza conhecimento, ou seja, faça uma reflexão sobre um objeto de estudo, pressupõe um relacionamento professor/aluno diferente do positivista. Nesta situação, o professor dá a palavra para o aluno que discute com base nos textos lidos, nas observações, nas entrevistas, na reflexão de textos coletivos produzidos pela turma e na experiência de vida. O aluno é ativo, não sendo o professor que fala e que sabe; há a participação e o esforço do aluno para aprofundar e incorporar conhecimentos novos, permitindo o desenvolvimento do real e da sua própria situação histórica. Dessa maneira, a aula é desenvolvida através de um “diálogo entre professor e alunos para estabelecer uma relação de intercâmbio do conhecimento e experiências. O diálogo, entretanto, deve ser considerado não apenas como uma conversação, mas sim como uma busca recíproca do saber” (PAULO FREIRE).
A aula na concepção positivista enfatiza a ordem, a integração, o consenso, excluindo as tensões e manifestação da vida social que não concorram para a ordem e funcionalidade da sociedade. Concebe o conhecimento como reflexo do objeto ou dos fatos sociais. Utiliza uma metodologia baseada, unicamente, na aula expositiva onde os alunos são receptáculos, passíveis ouvintes que deverão reproduzir o que foi transmitido. Trata-se do que Paulo Freire intitulou de educação bancária. Os conteúdos trabalhados na perspectiva positivista se referem, principalmente, a termos de conciliação, consenso, cordialidade e não violência. As temáticas que deixam aflorar a contradição, conflito, as tensões e violências tendem a ser minimizadas ou eliminadas das matrizes curriculares propostas para a educação básica. É como diz o Professor Pedro Demo ‘ A aula que apenas repassa conhecimento, ou a escola que somente se define como socializadora do conhecimento, não sai do ponto de partida, e, na prática, atrapalha o aluno porque o deixa como objeto de ensino e instrução” Continuando, afirma o referido pensador’ A aula copiada não constrói nada de distintivo, e por isso não educa mais do que a fofoca, a conversa fiada  dos vizinhos, o bate papo numa festa animada”
Em síntese, podemos dizer que a aula não pode ser um expediente rotineiro. Ela deve ser utilizada para comunicar resultados de uma pesquisa concluída ou em andamento. Não se aprende escutando. Só se aprende pesquisando, estudando. A pesquisa deve começar na educação infantil e não apenas quando o aluno ingressa nos cursos de pós-graduação (mestrado ou doutorado). O professor também precisa pesquisar para trabalhar com seus próprios textos e não somente com textos de outros pensadores. O docente tem que ter café novo para servir.  Ainda para o professor Pedro Demo o ambiente universitário é o dá aula e da prova {....} não descobrimos ainda que professor só pode dar aula daquilo que produz- se não produz, não tem aula para dar.

Rubens da Silva Castro é Professor da Faculdade de Educação da UFAM.
Elizeu Moreira é doutorando e professor do PARFOR

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