Antonio
Gramsci (1891* 1937†)
Infelizmente, a
proposta de educação dos sistemas de ensino sempre teve como objetivo alienar os
alunos e prepará-los para votar nos políticos que vivem da política e não para
a política.
O
dualismo sempre foi à característica principal da educação brasileira. Isto é,
havia e há uma educação que prepara os filhos da classe dominante para o exercício
de funções superiores e uma educação que prepara os filhos dos operários para
funções subalternas. Esse modelo de educação, criticado por Antonio Gramsci
(1891* 1937†), foi posto em prática, na Itália, durante a ascensão do regime fascista,
por meio da Reforma Gentile segundo a qual “a escola formaria pessoas capazes
de garantir o progresso econômico da nação, elevar o nível moral e cultural da
massa e promover os melhores elementos para garantir a renovação contínua das camadas
dirigentes”.
O
referido pensador criticava duramente tal proposta de educação profissional porque,
segundo ele, a reforma proposta por Giovanni
Gentile (1875* 1944†), ministro do Ministero della Pubblica Istruzione, estava
ancorada no esvaziamento de conteúdos indispensáveis à formação geral e
humanista do homem, objetivando uma formação imediata dos educandos para o
mercado de trabalho e para a obediência cega a doutrina cristã transmitida pela
tradição católica. Em outras expressões: esse modelo de educação pública não proporcionava
e como não proporciona uma formação integral, considerando a parte
técnica-filosófico-política, por intermédio da escola unitária.
Tal
educador foi preso e mandado para a penitenciária Regina Coeli, em Roma, para
aguardar Julgamento. Durante o processo, o promotor pediu sua condenação, argumentando
que era necessário “fazer com que o cérebro daquele homem de pouca estatura
parasse de trabalhar por, pelo menos, 20 anos”. Ele foi condenado há mais de 20
anos de prisão (em Turi), por
ser considerado uma ameaça para o regime fascista de Benito A. A. Mussolini (1883* 1945†),
não porque possuísse força física ou armas para tal façanha, mas pelo poder imortal
de amar a humanidade, um sentimento que sempre desespera os tiranos.
Após
o julgamento, Gramsci iniciou uma longa jornada, passando por diferentes
presídios, que terminaria oito anos mais tarde, apenas alguns meses antes da
sua morte, porque morrer nas masmorras não era interessante para o regime fascista.
Entretanto, durante os anos que passou na prisão, seu cérebro e seu corpo não
pararam de trabalhar. Preso, ele produziu dois extraordinários conjuntos de
obras de valor inestimável para o processo do pensamento crítico: as “Lettere”
(Cartas) e os “Quaderni” (Cadernos), nos quais seu trabalho intelectual está,
em grande parte, materializado.
Gramsci
foi um pensador crítico do sistema educativo italiano. Ele asseverava que a
educação deveria desempenhar um papel extremamente relevante tanto na
consolidação da hegemonia (dominação ideológica da burguesia sobre o proletariado e outras classes de trabalhadores) quanto na formulação da contra-hegemonia.
Para o já citado autor, a hegemonia é garantida pelos setores privados e não
totalmente pelo Estado (governo). A escola, para Gramsci, é uma mediação que
forma intelectuais para diferentes níveis de atuação.
Podemos
resumir esse princípio da seguinte maneira: a escola vinculada à ideologia burguesa
forma os intelectuais orgânicos a ela ligados, que quando formados irão trabalhar
em vários setores da sociedade no sentido de manter a hegemonia. Porém, em confronto
com os intelectuais vinculados organicamente à classe social burguesa, existem
outros intelectuais vinculados oraganicamente à classe trabalhadora que, em
confronto com aqueles, auxiliam na formulação da contra-hegemonia.
A
formação dos intelectuais vinculados organicamente à classe burguesa é
realizada na escola e, no que se refere aos intelectuais vinculados
organicamente à classe operária, a sua consciência e construída fora do
ambiente escolar, isto é, nos movimentos sociais, nos partidos políticos, nos
sindicatos e em outras associações. Gramsci, ao analisar o sistema de ensino
italiano, criticou a sua dualidade, haja vista a existência de dois tipos de
ensinos: a escola humanística e a escola profissional.
A
primeira destinava-se ao estudo da educação geral daqueles que faziam parte da
classe hegemônica, enquanto a segunda preparava os filhos dos operarios para o
desempenho de determinadas profissões. Gramsci propunha a escola unitária, uma
escola onde devem ser iniciadas novas relações entre trabalho intelectual e trabalho
manual, que se estenderia a toda a vida social. O autor afirma, ainda, que a
criação de escolas profissionalizantes pode parecer democrática, mas esse tipo
de escola acirra as diferenças sociais.
Ao
invés de se criar cursos para a qualificação de trabalhadores para um
determinado posto de trabalho, Gramsci defende a escola que habilite os
sujeitos não só para o exercício de uma profissão, mas também os capacite para
os cargos de direção. Entende os autores deste artigo que a educação não pode
manter-se como acadêmica ou profissionalizante. Essas duas vertentes
dicotomizadas formam o homem parcial, limitado e até anacrônico. A própria
revolução técnico-científica supera rapidamente as especializações
tradicionais, passando a exigir seres com sólida cultura geral e tecnológica,
capazes de dominar processos produtivos complexos.
A
escola unitária proposta por Gramsci caminha na direção de uma formação
politécnica que viabiliza uma compreensão que vai além do trabalho (alienado ao
capital) até o conhecimento do valor econômico, histórico, sociológico,
filosófico e antropológico do trabalho. Dizendo de uma maneira: o trabalhador
politécnico não sabe tudo, mas tem o conhecimento do todo. Esta concepção está
de acordo com a dialética materialista histórica de que o ensino não deve ser
orientado para uma profissão específica, o que reduz o homem a um mero
apertador de parafuso, pois, na opinião de Karl H. Marx, o mais importante é
utilizar o processo técnico para a formação total do homem, formação omnilateral.
Em outros
termos: a formação politécnica é diferente da formação técnica porque supera a
divisão técnica do trabalho que produz uma divisão da sociedade entre homens
que pensam antes de executar qualquer tipo de trabalho (homo sapiens) e homens
que executam quaisquer tipos de trabalho sem saber o que estão fazendo (homo
fabber). Em síntese, essa foi a proposta de António Gramsci, cujo o
trabalho e vida são um legado precioso para cada homem e mulher que, sob as
mais difícieis circunstâncias, sob pressão violenta ou manipulação sutil,
continuam a luta pelo advento de um novo mundo baseado na igualdade, na
liberdade e na justiça para todos.
Para
finalizar é interessante lermos o que escreveu Antonio Gramsci sobre a escola
para os homens cujo trabalho produz verdadeiramente a riqueza: “o proletariado
necessita de uma escola desinteressada. Uma escola que seja dada ao menino (e a
menina) a possibilidade de formar-se, de torna-se um homem pleno, ou seja, de
adquirir aquelas qualidades que servem para o desenvolvimento de um caráter
comprometido com a vida de todos. Em suma, o proletariado precisa de uma escola
humanista, como entendiam os antigos e, mais recentemente, os homens do Renascimento.
Uma escola que não hipoteque o futuro do menino e da menina”.
Infelizmente,
a proposta de educação dos sistemas de ensino sempre teve como objetivo alienar
os alunos e prepará-los para votar nos políticos que vivem da política e não
para a política. Não esqueça prezado leitor, deste conceituado jornal, se 50% +
1 dos eleitores anularem seu voto nas próximas eleições para prefeito e
vereador elas serão nulas segundo o artigo 224 do Código Eleitoral, e os atuais
candidatos não poderão candidatar-se na próxima eleição. Caro leitor, sejamos
patriotas, vamos banir da política aqueles que estão ansiosos para se
locupletar com o dinheiro público. É claro que não estamos generalizando.
Existem bons políticos e maus políticos.
Elizeu Vieira Moreira é Professor da
SEDUC e do PARFOR/FACED/UFAM.
Rubens da Silva Castro é Professor da
Faculdade de Educação da UFAM.
Grato pela Referência.
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