terça-feira, 7 de janeiro de 2014

A PROPOSTA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE ANTONIO GRAMSCI


Antonio Gramsci (1891* 1937†)
Infelizmente, a proposta de educação dos sistemas de ensino sempre teve como objetivo alienar os alunos e prepará-los para votar nos políticos que vivem da política e não para a política.
O dualismo sempre foi à característica principal da educação brasileira. Isto é, havia e há uma educação que prepara os filhos da classe dominante para o exercício de funções superiores e uma educação que prepara os filhos dos operários para funções subalternas. Esse modelo de educação, criticado por Antonio Gramsci (1891* 1937†), foi posto em prática, na Itália, durante a ascensão do regime fascista, por meio da Reforma Gentile segundo a qual “a escola formaria pessoas capazes de garantir o progresso econômico da nação, elevar o nível moral e cultural da massa e promover os melhores elementos para garantir a renovação contínua das camadas dirigentes”.
O referido pensador criticava duramente tal proposta de educação profissional porque, segundo ele, a reforma proposta por Giovanni Gentile (1875* 1944†), ministro do Ministero della Pubblica Istruzione, estava ancorada no esvaziamento de conteúdos indispensáveis à formação geral e humanista do homem, objetivando uma formação imediata dos educandos para o mercado de trabalho e para a obediência cega a doutrina cristã transmitida pela tradição católica. Em outras expressões: esse modelo de educação pública não proporcionava e como não proporciona uma formação integral, considerando a parte técnica-filosófico-política, por intermédio da escola unitária.
Tal educador foi preso e mandado para a penitenciária Regina Coeli, em Roma, para aguardar Julgamento. Durante o processo, o promotor pediu sua condenação, argumentando que era necessário “fazer com que o cérebro daquele homem de pouca estatura parasse de trabalhar por, pelo menos, 20 anos”. Ele foi condenado há mais de 20 anos de prisão (em Turi), por ser considerado uma ameaça para o regime fascista de Benito A. A. Mussolini (1883* 1945), não porque possuísse força física ou armas para tal façanha, mas pelo poder imortal de amar a humanidade, um sentimento que sempre desespera os tiranos.
Após o julgamento, Gramsci iniciou uma longa jornada, passando por diferentes presídios, que terminaria oito anos mais tarde, apenas alguns meses antes da sua morte, porque morrer nas masmorras não era interessante para o regime fascista. Entretanto, durante os anos que passou na prisão, seu cérebro e seu corpo não pararam de trabalhar. Preso, ele produziu dois extraordinários conjuntos de obras de valor inestimável para o processo do pensamento crítico: as “Lettere” (Cartas) e os “Quaderni” (Cadernos), nos quais seu trabalho intelectual está, em grande parte, materializado.
Gramsci foi um pensador crítico do sistema educativo italiano. Ele asseverava que a educação deveria desempenhar um papel extremamente relevante tanto na consolidação da hegemonia (dominação ideológica da burguesia sobre o proletariado e outras classes de trabalhadores) quanto na formulação da contra-hegemonia. Para o já citado autor, a hegemonia é garantida pelos setores privados e não totalmente pelo Estado (governo). A escola, para Gramsci, é uma mediação que forma intelectuais para diferentes níveis de atuação.
Podemos resumir esse princípio da seguinte maneira: a escola vinculada à ideologia burguesa forma os intelectuais orgânicos a ela ligados, que quando formados irão trabalhar em vários setores da sociedade no sentido de manter a hegemonia. Porém, em confronto com os intelectuais vinculados organicamente à classe social burguesa, existem outros intelectuais vinculados oraganicamente à classe trabalhadora que, em confronto com aqueles, auxiliam na formulação da contra-hegemonia.
A formação dos intelectuais vinculados organicamente à classe burguesa é realizada na escola e, no que se refere aos intelectuais vinculados organicamente à classe operária, a sua consciência e construída fora do ambiente escolar, isto é, nos movimentos sociais, nos partidos políticos, nos sindicatos e em outras associações. Gramsci, ao analisar o sistema de ensino italiano, criticou a sua dualidade, haja vista a existência de dois tipos de ensinos: a escola humanística e a escola profissional.
A primeira destinava-se ao estudo da educação geral daqueles que faziam parte da classe hegemônica, enquanto a segunda preparava os filhos dos operarios para o desempenho de determinadas profissões. Gramsci propunha a escola unitária, uma escola onde devem ser iniciadas novas relações entre trabalho intelectual e trabalho manual, que se estenderia a toda a vida social. O autor afirma, ainda, que a criação de escolas profissionalizantes pode parecer democrática, mas esse tipo de escola acirra as diferenças sociais.
Ao invés de se criar cursos para a qualificação de trabalhadores para um determinado posto de trabalho, Gramsci defende a escola que habilite os sujeitos não só para o exercício de uma profissão, mas também os capacite para os cargos de direção. Entende os autores deste artigo que a educação não pode manter-se como acadêmica ou profissionalizante. Essas duas vertentes dicotomizadas formam o homem parcial, limitado e até anacrônico. A própria revolução técnico-científica supera rapidamente as especializações tradicionais, passando a exigir seres com sólida cultura geral e tecnológica, capazes de dominar processos produtivos complexos.
A escola unitária proposta por Gramsci caminha na direção de uma formação politécnica que viabiliza uma compreensão que vai além do trabalho (alienado ao capital) até o conhecimento do valor econômico, histórico, sociológico, filosófico e antropológico do trabalho. Dizendo de uma maneira: o trabalhador politécnico não sabe tudo, mas tem o conhecimento do todo. Esta concepção está de acordo com a dialética materialista histórica de que o ensino não deve ser orientado para uma profissão específica, o que reduz o homem a um mero apertador de parafuso, pois, na opinião de Karl H. Marx, o mais importante é utilizar o processo técnico para a formação total do homem, formação omnilateral.
Em outros termos: a formação politécnica é diferente da formação técnica porque supera a divisão técnica do trabalho que produz uma divisão da sociedade entre homens que pensam antes de executar qualquer tipo de trabalho (homo sapiens) e homens que executam quaisquer tipos de trabalho sem saber o que estão fazendo (homo fabber). Em síntese, essa foi a proposta de António Gramsci, cujo o trabalho e vida são um legado precioso para cada homem e mulher que, sob as mais difícieis circunstâncias, sob pressão violenta ou manipulação sutil, continuam a luta pelo advento de um novo mundo baseado na igualdade, na liberdade e na justiça para todos.
Para finalizar é interessante lermos o que escreveu Antonio Gramsci sobre a escola para os homens cujo trabalho produz verdadeiramente a riqueza: “o proletariado necessita de uma escola desinteressada. Uma escola que seja dada ao menino (e a menina) a possibilidade de formar-se, de torna-se um homem pleno, ou seja, de adquirir aquelas qualidades que servem para o desenvolvimento de um caráter comprometido com a vida de todos. Em suma, o proletariado precisa de uma escola humanista, como entendiam os antigos e, mais recentemente, os homens do Renascimento. Uma escola que não hipoteque o futuro do menino e da menina”.
Infelizmente, a proposta de educação dos sistemas de ensino sempre teve como objetivo alienar os alunos e prepará-los para votar nos políticos que vivem da política e não para a política. Não esqueça prezado leitor, deste conceituado jornal, se 50% + 1 dos eleitores anularem seu voto nas próximas eleições para prefeito e vereador elas serão nulas segundo o artigo 224 do Código Eleitoral, e os atuais candidatos não poderão candidatar-se na próxima eleição. Caro leitor, sejamos patriotas, vamos banir da política aqueles que estão ansiosos para se locupletar com o dinheiro público. É claro que não estamos generalizando. Existem bons políticos e maus políticos.

Elizeu Vieira Moreira é Professor da SEDUC e do PARFOR/FACED/UFAM.
Rubens da Silva Castro é Professor da Faculdade de Educação da UFAM.

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