A prática
do professor construtivista é uma ação comprometida com a educação desenvolvida
em processo, fundada no conhecimento científico e epistemológico, que supere o
ativismo cotidiano e a empiria cega, caminho confortável que conduz ao modismo
e reproduz uma prática social global a uma ação burocrática e acrítica.
Por: Rubens
Castro*
Refletimos, neste texto, sobre a prática do
professor à luz da teoria do conhecimento. No decorrer da história humana
diferentes maneiras de transmissão do conhecimento têm sido adotadas por
diferentes formações socioculturais. Para citar exemplos concretos, temos em
mente as sociedades ágrafas do período neolítico, cujos remanescentes ainda
hoje se fazem presentes no mundo. Ora, sua educação prescindia da “escola” como
veículo de transmissão do conhecimento coletivo; ela se dava, mormente, pela
tradição oral, tendo os anciãos um papel de importância como modo de transmitir
seus conhecimentos.
Já nas sociedades posteriores, como, por exemplo, a
escravagista, surge a necessidade de uma educação formal com a exigência de um
preceptor com a função específica de transmitir conhecimento. Carlos Brandão
assinala que, a partir do momento em que a sociedade hierarquiza-se, há
necessidade de pessoas que saibam repassar conhecimentos para aquelas que não
sabem. Até hoje a escola subsiste e continua, apesar das severas críticas
feitas a ela, sendo veículo transmissor da cultura global e específica. E quem
organiza o processo de transmissão do saber na escola?O professor.
E o que significa ser professor? Eis algumas
concepções acerca do professor, explicitadas por diferentes teóricos do
conhecimento, e citadas por Chauí (1980). Platão diria:aquele capaz de fazer
com que o outro se lembre da verdade, reconhecendo-a. Rousseau diria: aquele
capaz de fazer da cultura uma astúcia que reproduza , por novos caminhos, a
vida natural perdida. Kant diria: o que traz as luzes, ensinando a pensar em
lugar de fornecer pensamentos.
O jesuíta disse: aquele capaz de
estabelecer uma distância absoluta entre o conhecimento e o real, ensinando,
por exemplo, as crianças que falam português, o latim por meio de regras de
gramática latina. Hergel diria: aquele capaz de fazer lembrar e trazer as
luzes, respeitando as etapas de desenvolvimento da consciência. Victor Cousin disse:
um funcionário posto pelo Estado a fim de transmitir moral e civismo formando
espíritos aptos necessários ao próprio Estado.
Um marxista perguntaria quem educa o educador?
Paulo Freire disse: aquele capaz de conscientizar, revelar a opressão e anular
a colonização. Essa citação de Chauí deixa bem claro que o professor teve e
continua tendo os mais diferentes papéis, e isso dentro do contexto
histórico-social. Assim, pode-se afirmar que a prática pedagógica do docente
frente ao processo ensino-aprendizagem vincula-se ao modelo de educação
predominante e ao tipo de homem que se pretende formar.
Neste
sentido, as concepções relativas à origem do conhecimento, de um modo geral,
podem ser agrupada em três grandes vertentes: a inatista, a empirista e a
interacionista. Na abordagem inatista, que se fundamenta nas premissas da
filosofia racionalista, o individuo já nasce com a capacidade de aprender,
tendo, portanto, influência mínima acerca do ambiente exterior. Esta vertente
esta associada à teoria das aptidões segundo a qual uns são mais inteligentes
que outros para a realização de determinadas atividades.
Tal corrente
assemelha-se a teoria dos economistas clássicos da não interferência estatal na
indústria e no comércio. A mesma coisa ocorre no processo pedagógico. O
professor não deve interferir na aprendizagem do aluno. Ele é capaz de aprender
sem que seja necessária a interferência do mestre. Já na corrente empirista, o
conhecimento é algo pronto, que está fora do indivíduo e que deve ser nele
introjetado para, depois de assimilado, ser utilizado.
Neste modelo epistemológico, o professor sabe,
restando-lhe, apenas, executar o que foi planejado pelo professor. Este se
preocupa tão somente com a transmissão de conteúdo e não com a aprendizagem de
seus alunos. Dessa maneira, pode-se dizer que o trato atribuído ao processo
ensino-aprendizagem pelos dois paradigmas já citados e, sem dúvida,
reducionistas.
Por quê?
Porque a vertente empirista não leva em conta a ação do sujeito sobre o objeto,
o que caracteriza tal modelo é a “unidirecionalidade nas relações
sujeito-objeto e é admitida como determinante a interferência do objeto sobre o
sujeito e não ao contrário” (BECKER,1993,p.99). Já a concorrente inatista faz
caminho inverso, isto é, relativiza a experiência, absolutizando o sujeito
(idem, p. 99). Como diz Simon Kramer “as epistemologias tradicionais
dicotomizam a relação sujeito-objeto seja de forma objetivista ou idealista”.
Contrapõe indivíduo e sociedade, consciência e
ação, teoria e política (p.103). E como é, então, a prática pedagógica do
professor empirista, inatista e construtivista? O professor empirista é o dono
do saber; aquele que sabe; é um mero repetidor de conhecimento. Como salienta Pedro
Demo “A aula reprodutiva reduz o aluno a ouvinte, impede que se faça
reconstrutor de suas próprias propostas, já que as recebe prontas, atrapalha a
formação da autonomia. Escutar professor, tomar nota e fazer prova indicam,
hoje, a falência total do sistema educativo, porque não há nada de educativo
nisso. (p.86).
Na avaliação preocupa-se tão somente com o produto
e não com o processo. Avalia não para conhecer e sim para excluir (prática
pedagógica da maioria dos professores que atuam tanto no ensino fundamental quanto
no ensino médio e até mesmo na educação superior). Diferentemente do professor
empirista, o professor intista, cuja identificação nas concepções pedagógicas e
epistemológicas é mais fácil do que na prática de sala de aula, é o facilitador
da aprendizagem.
Deve, como já foi dito anteriormente, interferir o mínimo
possível no processo de aprender. O professor construtivista, pelo contrário,
precisa conhecer profundamente o que vai ensinar, o que não implica saber
transmitir didaticamente os conteúdos, e sim saber problematizar, sistematizar ideias já descobertas no sentido de gerar desequilíbrios e cognitivos.
Finalizando, podemos dizer que a prática do
professor construtivista é uma ação comprometida com a educação desenvolvida em
processo, fundada no conhecimento científico e epistemológico, que supere o ativismo
cotidiano e a empiria cega, caminho confortável, que conduz ao modismo e
reproduz uma prática social global a uma ação burocrática e acrítica. A sua
atuação difere do professor tradicional, uma vez que este transmite os
conhecimentos a priori, já instituídos e formalizados.
*Rubens da
Silva Castro é professor da
Faculdade de Educação.
Meu querido Rubens da Silva Castro. Parabéns pelo Blog! Gostaria de solicitar que você acrescentasse meu nome como co-autor que fui em todos os textos que publicamos juntos no Jornal do Commercio, os quais se encontram registrados no meu Currículo Lattes, e que se encontram nesse Blogo somente com o seu nome. Caso você não lembre quais textos fizemos juntos, basta acessar o meu Currículo Lattes pois lá constam todos os textos, mas se por acaso tenho todos os exemplares do Jornal do Commercio. Solicito essa ratificação porque usei alguns de nossos artigos em publicações científicas, as quais foram questionadas pelo Comite Científico das Revistas como sendo PLÁGIO, tendo em vista os motivos supracitados.
ResponderExcluirUm abraço fraterno
Prof. Dr. Elizeu Vieira Moreira