Isto precisa ser profundamente meditado não só
pelos professores de Português, mas por todos os responsáveis pela linguagem
dos alunos, ou seja, por todos os professores de todas as disciplinas e,
naturalmente, pelas autoridades de ensino e educação”.
Celso Pedro Luft “a boa comunicação verbal nada tem a ver
com a memorização de regras de linguagem...”
O ensino da
gramática foi, durante muito tempo, e em alguns contextos ainda é, preocupação
dos professores de língua portuguesa, que atuam na educação básica; devido a
isso, recorrer a outros caminhos para o ensino de tal componente curricular não
é tarefa fácil, pois exige mudanças não só de postura, mas também de
concepções. Para muitas pessoas aprender a escrever significa e ainda continua
significando dominar as normas estabelecidas pela gramática tradicional. Como
afirma Celso Pedro Luft “a boa comunicação verbal nada tem a ver com a
memorização de regras de linguagem nem com a disciplina escolar que trata
dessas regras, e que geralmente, em nossas escolas, toma o lugar do que
deveriam ser as aulas de Português: leitura, comentário, análise e interpretação
de bons textos, e tentativa constante de produzir, pessoalmente, textos
bons-enfim, vivência criativa com o idioma”. Existem professores de Língua
Portuguesa que só admitem um só uso da língua: o culto. Uma espécie de
ditadura, não levando em conta os demais usos, estes utilizados pelos alunos
das classes populares.
Querem, na
verdade, engessar a língua dentro da gramática tradicional. Esta não é uma
ciência, isto é, ela não se preocupa em explicar como funciona a língua, quais
são as regras intrínsecas, aquela que nos possibilitará entender a formação de
frases possuidoras de sentidos. A gramática tradicional não é diferente dos
códigos de natureza ética ou moral, que nos dizem o que podemos ou não fazer.
São normas que têm caráter imperativo, daí podemos denominá-las como
mandamentos: numa se inicia frase com pronome oblíquo átono. Como salienta
Soares (1995) {...}, isso pode ser verdadeiro e pode ser falso, dependendo das
condições pragmáticas. Se estou
conversando {....} não vou falar. “Dê-me este papel”. Eu falo: “Me dá
esse papel”. Então, eu erro, entre
aspas. Erro no uso do imperativo, “erro na colocação do pronome, mas não erro
pragmaticamente, porque é uma conversa {....}” (p.12).
Essa norma tem
como finalidade impor um comportamento padrão que deve ser obedecido pela
comunidade e são prescritas pela sociedade para
serem cumpridas. Como se sabe, existem pessoas que sabem pouco sobre
gramática e falam e escrevem muito bem. Na realidade, o que existe é um
equivoco entre “saber português” e “saber gramática”. São coisas diferentes?
Claro que não. Diríamos que são saberes
diferentes. A gramática tradicional é um conjunto de normas imposto pela classe
que detém o poder, político e econômico (as elites). Não se aprende a escrever
decorando regras gramaticais o mesmo
pode-se dizer para a matemática. Não se aprende Matemática decorando fórmulas.
As pessoas que lêem, ou seja, utilizam as leituras como práticas sociais
interiorizarão, sem dúvida alguma, o uso culto da língua. Nas escolas de ensino
fundamental e médio a gramática internalizada é pouco estudada. Tais
instituições privilegiam o estudo da gramática normativa, desvalorizando o
conhecimento que os alunos têm das regras gramaticais intrínsecas de sua
língua. E o que a escola ensina? A língua ou a nomenclatura gramatical? Lógico
que é a nomenclatura gramatical. Pela nossa experiência como professores da
disciplina Estágio Supervisionado, temos observado que as aulas de Língua
Portuguesa, para os alunos da educação básica, costumam se caracterizar por
ensinar o nome das coisas: os discentes aprendem que tais palavras se chamam
substantivos; outras adjetivos; outras advérbios etc, colocando em plano
secundário um aspecto mais importante,
que é o uso.
Em sua opinião,
caro leitor, é preciso saber gramática para o aprendizado da escrita? Sim, mas
precisamos dizer ao aluno que ela não é a única, existem outros registros. Os
alunos pertencem às classes menos aquinhoadas sua comunicação é tão boa quanto
a outra, usada pelas classes abastadas. O aluno tem que entender que é
necessário conhecer o outro dialeto (o da classe dominante), mas não para se
adaptar a sociedade. É imprescindível conhecê-lo porque é uma arma de luta. Com
relação à gramática tradicional diz Celso Pedro Luft “{....} expressa-se de
maneira clara e eficiente independe da
gramática artificial (livro, disciplina); liga-se, isto sim, à gramática natural,
interior, implicita. Isto precisa ser profundamente meditado não só pelos
professores de Português, mas por todos os responsáveis pela linguagem dos
alunos, ou seja, por todos os professores de todas as disciplinas e,
naturalmente, pelas autoridades de ensino e educação”.
Rubens da Silva Castro – Professor da Universidade
Federal do Amazonas-UFAM
Ana Cristina Cruz Pinto – Professora da Faculdade
Metropolitana de Manaus-FAMETRO
Celso
Pedro Luft “a boa comunicação verbal nada tem a ver com a memorização de regras
de linguagem...”
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