segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A CONSTRUÇÃO DE BONS TEXTOS DEPENDE DO DOMÍNIO DE REGRAS GRAMATICAIS?





Isto precisa ser profundamente meditado não só pelos professores de Português, mas por todos os responsáveis pela linguagem dos alunos, ou seja, por todos os professores de todas as disciplinas e, naturalmente, pelas autoridades de ensino e educação”.
Celso Pedro Luft “a boa comunicação verbal nada tem a ver com a memorização de regras de linguagem...”
O ensino da gramática foi, durante muito tempo, e em alguns contextos ainda é, preocupação dos professores de língua portuguesa, que atuam na educação básica; devido a isso, recorrer a outros caminhos para o ensino de tal componente curricular não é tarefa fácil, pois exige mudanças não só de postura, mas também de concepções. Para muitas pessoas aprender a escrever significa e ainda continua significando dominar as normas estabelecidas pela gramática tradicional. Como afirma Celso Pedro Luft “a boa comunicação verbal nada tem a ver com a memorização de regras de linguagem nem com a disciplina escolar que trata dessas regras, e que geralmente, em nossas escolas, toma o lugar do que deveriam ser as aulas de Português: leitura, comentário, análise e interpretação de bons textos, e tentativa constante de produzir, pessoalmente, textos bons-enfim, vivência criativa com o idioma”. Existem professores de Língua Portuguesa que só admitem um só uso da língua: o culto. Uma espécie de ditadura, não levando em conta os demais usos, estes utilizados pelos alunos das classes populares.
Querem, na verdade, engessar a língua dentro da gramática tradicional. Esta não é uma ciência, isto é, ela não se preocupa em explicar como funciona a língua, quais são as regras intrínsecas, aquela que nos possibilitará entender a formação de frases possuidoras de sentidos. A gramática tradicional não é diferente dos códigos de natureza ética ou moral, que nos dizem o que podemos ou não fazer. São normas que têm caráter imperativo, daí podemos denominá-las como mandamentos: numa se inicia frase com pronome oblíquo átono. Como salienta Soares (1995) {...}, isso pode ser verdadeiro e pode ser falso, dependendo das condições pragmáticas. Se estou  conversando {....} não vou falar. “Dê-me este papel”. Eu falo: “Me dá esse papel”.  Então, eu erro, entre aspas. Erro no uso do imperativo, “erro na colocação do pronome, mas não erro pragmaticamente, porque é uma conversa {....}” (p.12).
Essa norma tem como finalidade impor um comportamento padrão que deve ser obedecido pela comunidade e são prescritas pela sociedade para  serem cumpridas. Como se sabe, existem pessoas que sabem pouco sobre gramática e falam e escrevem muito bem. Na realidade, o que existe é um equivoco entre “saber português” e “saber gramática”. São coisas diferentes? Claro que não. Diríamos que são  saberes diferentes. A gramática tradicional é um conjunto de normas imposto pela classe que detém o poder, político e econômico (as elites). Não se aprende a escrever decorando regras gramaticais  o mesmo pode-se dizer para a matemática. Não se aprende Matemática decorando fórmulas. As pessoas que lêem, ou seja, utilizam as leituras como práticas sociais interiorizarão, sem dúvida alguma, o uso culto da língua. Nas escolas de ensino fundamental e médio a gramática internalizada é pouco estudada. Tais instituições privilegiam o estudo da gramática normativa, desvalorizando o conhecimento que os alunos têm das regras gramaticais intrínsecas de sua língua. E o que a escola ensina? A língua ou a nomenclatura gramatical? Lógico que é a nomenclatura gramatical. Pela nossa experiência como professores da disciplina Estágio Supervisionado, temos observado que as aulas de Língua Portuguesa, para os alunos da educação básica, costumam se caracterizar por ensinar o nome das coisas: os discentes aprendem que tais palavras se chamam substantivos; outras adjetivos; outras advérbios etc, colocando em plano secundário um aspecto  mais importante, que é o uso.
Em sua opinião, caro leitor, é preciso saber gramática para o aprendizado da escrita? Sim, mas precisamos dizer ao aluno que ela não é a única, existem outros registros. Os alunos pertencem às classes menos aquinhoadas sua comunicação é tão boa quanto a outra, usada pelas classes abastadas. O aluno tem que entender que é necessário conhecer o outro dialeto (o da classe dominante), mas não para se adaptar a sociedade. É imprescindível conhecê-lo porque é uma arma de luta. Com relação à gramática tradicional diz Celso Pedro Luft “{....} expressa-se de maneira  clara e eficiente independe da gramática artificial (livro, disciplina); liga-se, isto sim, à gramática natural, interior, implicita. Isto precisa ser profundamente meditado não só pelos professores de Português, mas por todos os responsáveis pela linguagem dos alunos, ou seja, por todos os professores de todas as disciplinas e, naturalmente, pelas autoridades de ensino e educação”.

Rubens da Silva Castro – Professor da Universidade Federal do Amazonas-UFAM
Ana Cristina Cruz Pinto – Professora da Faculdade Metropolitana de Manaus-FAMETRO

Celso Pedro Luft “a boa comunicação verbal nada tem a ver com a memorização de regras de linguagem...”

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