sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

LIVRO DIDÁTICO: INSTRUMENTO DIFUSOR DE IDEOLOGIAS





Celso dos Santos Vasconcelos: “A utilização do livro didático deve passar por uma crítica que envolva escola e alunos”

Por: Rubens Castro – Professor Adjunto da UFAM
Dessa maneira, podemos dizer que o professor perde sua identidade, pois acredita nas mensagens registradas nas cartilhas como suas e a principal função do professor que não é só direcionar a práxis do processo de ensino aprendizagem se perde, mas também perde a função de mediador da transmissão da herança cultural construída através dos tempos.
Refletimos, neste texto, sobre o livro didático, destacando o uso deste recurso didático, ainda nos dias atuais, como principal instrumento de trabalho de professores e alunos nas escolas de educação básica. O livro didático continua sendo o elemento norteador da prática pedagógica da maioria dos docentes, passando a ser o elemento tido como indispensável para o desenvolvimento das atividades didático-pedagógicas. Quais os critérios utilizados para sua escolha? Capa com figuras ou ilustrações? Adequação ao projeto político-pedagógico da escola? Atendimento às orientações dos Parâmetros Curriculares Nacionais?
         Celso dos Santos Vasconcelos, em Planejamento: projeto de ensino-aprendizagem e projeto político-pedagógico afirma que a utilização do livro didático deve passar por uma crítica que envolva escola e alunos, para que possam ser adotados livros que contemplem questões de gênero, etnias, classe social, multiculturalismo, culturas locais, dentre outros, empenhados em desmitificar supostas verdades absolutas, que coincidentemente procuram legitimar os valores e ideais de culturas hegemônicos, pois na opinião de Ana Lúcia G. Faria, em Ideologia (ilusão, mentira) no livro didático, afirma que este recurso pedagógico atua como difusor de preconceitos, através de ideologias que carregam seus discursos.  
Entendemos que o livro didático deve ser, essencialmente, fonte de idéias. Não pode ser um curso, mas sim um recurso. O apego exagerado a esse instrumento pedagógico faz com que o docente seja tutelado da primeira a última página, isto é, não é o professor que ministra aulas e sim o autor do livro didático. Com essas assertivas não queremos negar a importância do livro didático desde que ele não seja assumido como único recurso de apoio ou assumido acriticamente. Dizendo de outra maneira: o problema não é apenas descartar o uso do livro em sala de aula, mas concebê-lo como objeto do conhecimento no trabalho dos professores por meio da dialogicidade, onde professor e aluno assumem o papel de sujeito que atua sobre o objeto.
Refletimos, juntamente com os colegas professores e os que pretendem atuar como docentes na educação básica, que o livro didático não é, em si mesmo, um problema para a realização de um trabalho crítico em sala de aula, ou seja, o livro didático não é a condição sine qua non para o exercício ou não da função docente crítica; o problema é o que está nos bastidores da escolha do livro didático. O livro didático, na medida em que apresenta um conteúdo pronto para ser transmitido ao aluno, despreza o papel formativo e criativo que o docente pode assumir. Na concepção de Paulo Freire o papel do professor é muito mais dinâmico. Pelas observações feitas, em sala de aula, durante o Estágio Supervisionado realizado com os alunos do Curso de Pedagogia, disciplina obrigatória para os alunos do curso de pedagogia, observamos que os professores não fogem do que está escrito no livro didático. Seguem religiosamente as recomendações em termos de exercícios e conteúdos consubstanciados no referido recurso pedagógico.
Essas observações nos fizeram chegar à seguinte síntese: cultuava-se na sala de aula uma das práticas do senso comum mesmo que de maneira inconsciente por parte do professor da turma, onde o que estava escrito era verdadeiro, inquestionável. Dessa maneira, podemos dizer que o professor perde sua identidade, pois acredita nas mensagens registradas nas cartilhas como suas e a principal função do professor que não é só direcionar a práxis do processo de ensino aprendizagem se perde, mas também perde a função de mediador da transmissão da herança cultural construída através dos tempos. Para concluirmos, é bom lermos o que Ana Lúcia G. Faria recomenda para a não adoção do livro didático “O livro didático atua como difusor de preconceitos. O índio é visto como ‘selvagem’, desconhecendo o ‘progresso’, nu e enfeitado com cocares; a mulher é valorizada enquanto doméstica, ou bordadeira, costureira, babá. Igualmente o caboclo brasileiro é desvalorizado, qualificado de ‘caipira’ pejorativamente. Isso ocorre em muitos movimentos sindicais ou políticos onde o trabalhador comum, por não conhecer o ‘jargão’ dos ‘chefes’, é visto como massa atrasada”.

Rubens da Silva Castro – Professor Adjunto da UFAM

Um comentário:

  1. Meu querido Rubens da Silva Castro. Parabéns pelo Blog! Gostaria de solicitar que você acrescentasse meu nome como co-autor que fui em todos os textos que publicamos juntos no Jornal do Commercio, os quais se encontram registrados no meu Currículo Lattes, e que se encontram nesse Blogo somente com o seu nome. Caso você não lembre quais textos fizemos juntos, basta acessar o meu Currículo Lattes pois lá constam todos os textos, mas se por acaso tenho todos os exemplares do Jornal do Commercio. Solicito essa ratificação porque usei alguns de nossos artigos em publicações científicas, as quais foram questionadas pelo Comite Científico das Revistas como sendo PLÁGIO, tendo em vista os motivos supracitados.

    Um abraço fraterno
    Prof. Dr. Elizeu Vieira Moreira

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